Imagine há algumas décadas atrás, marinheiros que costumavam ficar entre quatro e seis meses em alto mar, vivendo suas travessias transoceânicas, navegando de um lado para o outro, buscando suas fontes e maneiras de viver a vida.
Durante todo esse tempo, você consegue imaginar o que seria a alimentação desses viajantes? Algo nada adequado: carne de charque bovina ou de porco com pão, acompanhado por uma “saudável” bebida, o rum. Com essa alimentação, depois de um certo período, situações inesperadas começaram a acontecer, como inflamações das gengivas, perdas dos dentes, hemorragias causadas pelo rompimento das paredes dos vasos sanguíneos, deterioração do sistema imunológico e, por fim, a morte. Sintomas causados pela doença conhecida como escorbuto.
Após estudos realizados em frutas e verduras, uma substância que impedia a proliferação da doença, que se tornou comum entre os viajantes, foi identificada: o ácido ascórbico. Em 1928, o médico e cientista húngaro Albert Szentgyorgyi conseguiu isolar este ácido. Logo, dois grupos independentes de pesquisadores conseguiram também isolar a substância em forma cristalina pura. Em seguida, a estrutura química foi identificada e o produto sintetizado sob a forma fisiologicamente ativa. Enfim, no ano 1938 o ácido ascórbico foi oficialmente aceito com nome químico deVitamina C.
Agora chega de história e vamos direto ao ponto. De acordo com Luciana Harfenist, nutricionista clínica funcional com prática ortomolecular, a C é uma vitamina hidrossolúvel fundamental para o equilíbrio do nosso organismo. “Participa de diversas reações bioquímicas, é considerada um dos mais potentes antioxidantes, em função da sua capacidade de doar elétrons diminuindo assim a ação dos radicais livres. Além disso, ela é peça fundamental para formação de colágeno”, explica. E tem muito mais!
Indispensável para os atletas...
O consumo da vitamina C está presente hoje na maioria da dieta dos praticantes de atividades físicas. Segundo o farmacêutico Kali Nardino, gerente de produtos da Smart Life, com a prática esportiva é importante a suplementação com algumas vitaminas e minerais, e a vitamina C é um dos principais agentes antioxidantes que deve estar na orientação nutricional adequada aos esportistas. “O atleta de alta performance tem um grau elevado de estresse oxidativo, o que torna a suplementação da vitamina C em sinergismo com outras vitaminas fundamentais para o equilíbrio orgânico e melhora da performance do atleta. Além disso, o consumo de 1 a 2g de vitamina C por dia previne acúmulo de lactato que é prejudicial para o desempenho dos atletas”, explica Luciana Harfenist.
De acordo com o farmacêutico, a suplementação pode ser feita através de comprimidos, compostos líquidos prontos para o consumo que fornecem doses diárias suficientes de ácido ascórbico para o organismo, como shots energéticos com vitamina C, por exemplo, cápsulas e até mesmo através de efervescentes.
Porém, ele ressalta “de qualquer forma, é importante citar que hábitos de vida saudáveis como alimentação equilibrada com alimentos que contenham vitamina C e outros nutrientes são fundamentais para manutenção do bem-estar”.
Outros estudos também relacionam o consumo dietético de vitamina C com menor número de eventos cardíacos, diminui a oxidação do LDL, prevenindo a formação das placas de ateroma. “Ela é peça chave na manutenção da ação do óxido nítrico promovendo o relaxamento vascular, permitindo, assim, um bom fluxo sanguíneo fundamental para a prevenção da hipertensão arterial e para a melhora da performance de atletas”, acrescenta a profissional.
...e para todos nós
A vitamina C possui diversos benefícios para a saúde, ajudando a prevenir vários tipos de doenças. Por exemplo, prevenção da anemia por deficiência de ferro, pois tem a capacidade de aumentar sua absorção durante as refeições. Segundo a nutricionista, a vitamina C tem ainda como função ativar as células do sistema imunológico e sua capacidade proliferativa e funcional. “Vários estudos consideram a vitamina C importante na prevenção e no tratamento do câncer, além de doenças cardiovasculares”, revela. Além disso, a vitamina C também ajuda a proteger o sistema respiratório, atuando na prevenção de viroses, pneumonia e combatendo infecções.
E não para por aí. A vitamaina C ainda é fundamental para formação de colágeno, através da hidroxilização. E tem participação direta em muitas funções fisiológicas pois é cofator de catecolaminas – compostos químicos derivados do aminoácido tirosina – e porque é necessária para síntese de cortisol, epinefrina ou adrenalina, norepinefrina, que influencia o humor, ansiedade, sono e alimentação, e histamina, que desempenha função reguladora fisiológica intestinal.
Como se não bastasse, ela ajuda a reduzir os níveis de glicemia de pacientes com diabetes através da suplementação de 1g por dia, e ativa a conversão de colesterol em ácidos biliares. E ainda é ótima para cicatrização de feridas e reconstituição de ossos quebrados. “Além disso, a vitamina também é importante no tratamento das alergias por sua ação anti-histamínica, que aumenta a degradação e inibi a liberação da histamina”, diz Harfenist.
Como e quando ingerir?
Segundo Nardino, há um índice de que populações que consomem níveis de vitamina C a longo prazo, maiores que o da Recommend Dietary Allowances (RDA), 60mg por dia, seja na forma de alimentos ou suplementos, ocorre a redução de riscos de câncer, doenças cardiovasculares e catarata. Harfenist diz que o seu consumo deve ser diário através dos alimentos e quando necessário através da suplementação - sempre indicada por um nutricionista. Para a prevenção de escorbuto, a nutricionista recomenda 65mg da vitamina.
Para encontrar alimentos que possuem a vitamina C é fácil, e a maioria deles são as frutas, que de acordo com a profissional, devem ser consumidas imediatamente após a sua abertura. “As melhores fontes da vitamina são as frutas cítricas, como por exemplo, laranja, limão, maracujá, caju, tangerina, abacaxi, acerola, grapfruit – fruto pouco conhecido no Brasil que também leva o nome de toranja, kiwi, morango, tomate, mirtilo, cramberry, framboesa, uva etc”, diz. O farmacêutico diz que o consumo de alimentos ricos em vitamina C nas refeições aumenta a quantidade de ferro absorvido, além de contribuir como antioxidantes e diversas funções e benefícios.
Na hora de suplementar, a quantidade diária do suplemento varia de acordo com as necessidades energéticas de cada pessoa. Nardino comenta que os Valores Diários de Referência (VDR) com base em uma dieta de 2000kcal pode ser por volta de 45mg por dia. Harfenist concorda com a variação e diz que a suplementação deve ser individualizada. “Ela deve ser feita em doses pequenas várias vezes ao dia, pois não absorvemos e utilizamos altas doses de uma só vez, ela é absorvida até 200mg por vez. Além de ser ingerida apenas após uma avaliação completa da dieta do paciente, análise clínica dos sinais e sintomas, sempre através da prescrição de um nutricionista”.
Para um aproveitamento melhor, a profissional indica que a dose deva ser dividida em 2 a 4 doses diárias ou conforme o caso de cada paciente. “Além disso, ainda existe a opção de comprar a vitamina C de lenta absorção”, complementa.
Encrenca!
Caso não haja ingestão da vitamina, existem algumas deficiências que podem causar certos probleminhas. “Falta de apetite, cabelos secos e quebradiços, fadiga, irritabilidade, alteração de humor, hemorragias, fraqueza muscular, fragilidade capilar, diminuição da capacidade de cicatrização de feridas, anemia ferropriva – causada pela deficiência do ferro – flacidez etc”, relata a nutricionista.
Segundo Luciana Harfenist, sua deficiência também causa edema nas articulações, sangramento das gengivas durante escovação, alergias, pele seca e sem vida, equimoses - infiltração de sangue em tecidos, petéquias - pequenos pontos vermelhos, hemorragia ocular grave, prejuízo na formação de adrenalina e noradrenalina e queda da utilização de gordura como fonte de energia. A profissional ainda deixa um aviso importante: “pacientes com histórico de formação de pedra nos rins não devem suplementar a vitamina C”.
A profissional ainda relata que o estresse consome rapidamente a vitamina C reduzindo a sua quantidade no sangue.
Box
Sabia que...
A acerola é uma fruta especialmente rica em vitamina C? E, além disso, é fonte de pró-vitamina A, ferro e cálcio? De acordo com Nardino, sua ingestão pode ser feita na forma natural, mas também existem outras opções, como sucos, compotas, geleias, doces entre outras. O farmacêutico diz que certos especialistas determinaram o conteúdo de vitamina C na acerola produzida no Brasil, encontrando teores variando de 1040mg/100g a 1790mg/100g de parte comestível. Encontraram também na fruta um conteúdo de beta caroteno -pró-vitamina A de 0,59mg/100g.
Fonte: REVISTA SUPLEMENTAÇÃO - ANO 05 - Nº17