GH - o que é e como
atua
Sem duvidas este peptídeo é um dos assuntos preferidos da
mídia, que esporádica e invariavelmente exalta fórmulas mágicas supostamente
capazes (suposição deles, claro) de resolver os problemas da humanidade, afinal
de contas a busca pela perfeição sempre foi e sempre será uma constante entre
os seres humanos, por mais discutíveis e voláteis que sejam os conceitos de
perfeição. A bola da vez é o hormônio do crescimento humano (a partir de agora
GH), sendo a ele atribuídos:
·Redução do percentual de gordura, com redução da celulite,
·Aumento da massa muscular,
·Fortalecimento dos ossos e articulações,
·Pele mais saudável,
·Melhora da performance sexual e atlética,
·Maior capacidade de cura de lesões,
·Diminuição da pressão arterial,
·Aumento do HDL,
·Combate à osteoporose,
·Enfim uma vida mais feliz e produtiva!
Mas afinal de contas,
o que é o GH?
O GH é um hormônio liberado pela parte anterior da glândula
hipófise estimulada por inúmeras situações (e põe inúmeras nisso, a
concentração séricas deste peptídeo pode variar até 1000% em poucos minutos),
alguns fatores que estimulam a liberação de GH são:
·Sono,
·Hipoglicemia,
·Exercício (maior em treinos intermitentes e intensos),
·Refeições ricas em proteínas,
·Estresse (dor, calor, ansiedade),
·Outros agentes (serotonina, estrógenos, adrenalina,
dopamina, glucagon, beta-bloqueadores, L-arginina...).
A baixa concentração de GH na infância pode levar ao
nanismo. Com o avanço da idade há notável redução deste hormônio, a qual
pretende-se relacionar com dibilidades no tecido muscular, ósseo, articular e
até mesmo nos órgãos (entre os 30 e 75 anos fígado, rins, cérebro e pâncreas
atrofiam em média 30%). Já sua alta concentração pode levar a acromegalia e
distúrbios cardíacos e metabólicos. A deficiência de GH é verificada em adultos
se os resultados dos testes (indução de hipoglicemia com insulina ou infusão de
arginina) forem menores que 5 ng/ml para adultos e 10 ng/ml em crianças. Em
casos de deficiência, o tratamento em adultos geralmente é feito com doses
variando de acordo com a resposta metabólica, mas que dificilmente excedem 1 mg
por dia, podendo ser bem maiores em crianças e adolescentes.
O uso do hormônio do crescimento começou em 1958, retirado
diretamente de cérebros humanos, o que causou vários problemas de contaminação
e desordens neurológicas fatais em alguns pacientes, levando a descontinuidade
desta forma de tratamento. Somente em 1985 o problema foi resolvido, quando o
hormônio do crescimento sintético se tornou disponível nos EUA, a evolução
científica permitiu obter o GH através de uma recombinação do DNA humano,
procurando produzir a seqüência ideal de aminoácidos, sendo mais seguro e
obtido com relativa facilidade.
No corpo, existe uma reação em cadeia envolvendo o hormônio
do crescimento. Esta cascata se inicia no hipotálamo, quando o fator liberador
é solto (GHRH - hormônio liberador de hormônio do crescimento), ele estimula a
produção de hormônio do crescimento pela hipófise e sua secreção para a
corrente sangüínea, levando a produção e liberação do fator de crescimento tipo
insulina (IGF-1) no fígado, o IGF-1 promove a desenvolvimento de ossos e
tecidos. Ao perceber o aumento na concentração deste hormônio há a sinalização
para que a hipófise cesse a liberação de GH. Se o mecanismo de retroalimentação
negativa não funcionar e a produção de GH (e conseqüentemente de IGF-1) se
mantiver alta pode ocorrer crescimento patológico de ossos e órgãos, assim como
levar a desequilíbrios no metabolismo de glicídios e lipídios.
Os efeitos colaterais mais comuns do uso de GH são edemas,
retenção hídrica, dores articulares e ósseas.
Existem algumas hipóteses para explicar a atuação do
hormônio do crescimento
· Hipótese da
somatomedina.
O GH liberado pela hipófise chegaria ao fígado e tecidos
periféricos, causando a liberação e produção dos IGFs. Neste caso o hormônio do
crescimento parece ser um fator endócrino muito eficiente visto que em termos
de quantidades séricas de IGF-1, aplicar GH mostrou-se cerca de 50 vezes mais
eficiente que o próprio IGF-1 (SKOTTNER, 1987). O GH pode também aumentar a
quantidade de receptores, prolongando a meia-vida do IGF-1.
· Hipótese do duplo
efeito.
Segundo esta teoria, além de atuar indiretamente, o próprio
GH atuaria diretamente nas células, como fator de crescimento (provavelmente
devido à diferenciação das células precursoras) (GREEN, 1985).
GH - mitos e verdades
Todos sabem dos supostos atributos do Hormônio do
Crescimento (GH). Basta abrir qualquer revistinha e ler a lista. Mas, afinal de
contas, o que realmente é comprovado sobre o GH? Será que os achados
científicos apóiam a bajulação em torno desse hormônio? E (a pergunta de
sempre) será que vale a pena pagar o preço?
Antes de iniciarmos o estudo, recomendo cuidado na
interpretação das pesquisas, pois sabemos que o hormônio do crescimento pode
levar a mudanças em diversos tecidos, incluindo muscular, articular e ósseo.
Quando se verifica um aumento na massa magra, significa que houve aumento em
algum dos componentes do seu corpo que não sejam gordura, portanto aumento de
massa magra não significa necessariamente aumento de massa muscular. Quanto a
esse equívoco (talvez propositalmente induzido pela industrias farmacêuticas) o
médico MICHAEL MOONEY, respeitada autoridade em preservação muscular e HIV,
desafiou uma empresa produtora de GH: com a seguinte declaração:
"Ressalto que o único estudo de Serotostim (nome
comercial do GH da empresa) que incluiu uma avaliação crítica das mudanças no
tecido muscular usando MRI (ressonância magnética) não mostrou nenhuma
alteração. Todos os demais usaram análise de impedância bioelétrica, a qual
mede a massa corporal magra, mas não pode medir com segurança as mudanças
musculares. Na Terceira Conferência Internacional de Nutrição e Infecção por
HIV, em Cannes, França, abril de 1999, Donald Kotler, médico de St.
Lukes-Roosevelt Medical Center de Nova York, reportou os resultados de um
estudo de 6 meses com o hormônio do crescimento Serotostim. Os resultados do
Dr. Kotler mostraram que 6 mg de Serostim por dia não promoveram aumento
significativo no tecido muscular durante as doze semanas em que os dados de
repetidas MRI de oito pacientes estavam disponíveis. Muitos outros estudos com
diversas populações HIV-negativas também não mostraram melhoras aparentes no
tecido muscular"
Tendo essa observação em mente, prosseguimos com o tema. A
partir de 1985, com a facilidade de se obter o GH sinteticamente através da
recombinação do DNA humano, cientistas do mundo todo dedicaram inúmeras
pesquisas ao uso terapêutico deste peptídeo, principalmente em idosos e
HIV-positivos.
HIV-positivos
Inicialmente os experimentos foram direcionados a pacientes
debilitados. Nessa linha, SCHAMBELAN et al (1996) avaliaram os efeitos, no
longo prazo, do tratamento com hormônio do crescimento no peso, composição
corporal e performance funcional de HIV-positivos. O grupo experimental recebeu
0,1 mg/kg/dia durante doze semanas, e o outro grupo recebia placebo. O
tratamento com hormônio do crescimento ocasionou ganho de peso e massa magra,
com diminuição na massa de gordura, ao contrário do grupo controle, que não
teve diferenças relevantes nos resultados.
Como o tratamento prolongado de hormônio do crescimento sai
muito dispendioso, PATON et al (1999) direcionaram um experimento ao uso de GH
coincidindo com a presença de infecções oportunistas durante duas semanas,
visando atenuar a perda de massa muscular em HIV-positivos. Nos pacientes
tratados com GH, o catabolismo se mostrou 60% menor, com aumento médio de 2,2kg
na massa magra e diminuição de 0,7 kg de gordura. Os autores apresentam esse
tipo de intervenção como relativamente segura e eficiente, com um menor custo
financeiro, visto que a terapia só é realizada em períodos curtos.
Mas nem todos os resultados foram positivos, um estudo de
1996 tratou pacientes em estados catabólicos crônicos com as formas recombinadas
de GH (1,4mg/dia) e IGF-1 (5 mg 2 vezes por dia), ou ambos. Todos os grupos
tiveram aumento na massa magra e diminuição na massa de gordura, porém os
ganhos foram muito inconstantes e instáveis, levando à conclusão de que as
drogas e doses testadas não são recomendadas (WATERS et al, 1996). Mais um
estudo nessa linha é o de MOONEY (1999), no qual se usou cerca de 6 mg/dia de
GH em pacientes portadores do vírus HIV. Ao final das doze semanas não houve
mudanças positivas na musculatura esquelética. Com base em conclusões similares
WELLE, (1998), afirma que os efeitos anabólicos do tratamento com GH no longo
prazo não justificam a abundante terapia de reposição hormonal.
Idosos
Os idosos são um grupo, no qual os efeitos do GH foram
bastante estudados. Como em 1999, quando KIM et al observaram os efeitos
lipolíticos e anabólicos do tratamento com hormônio do crescimento mesmo com
restrição calórica. Os pesquisadores também analisaram as mudanças na secreção
de insulina e GH. Juntamente com uma dieta de 25 kcal/kg e 1,2 g/kg de proteína
por dia, os pacientes recebiam hormônio do crescimento ou placebo. As injeções
de hormônio do crescimento aumentaram as quantidades de IGF-1 e induziram a
perda de gordura visceral, sem ocasionar alterações na liberação de insulina
durante o teste de tolerância a glicose. O grupo experimental, tratado com GH,
obteve perda de peso 1,6 vezes maior e manteve a massa magra, enquanto o grupo
controle perdeu uma média de 2,62 kg de massa magra, apresentando balanço
nitrogenado negativo.
Vimos na primeira parte do texto o possível funcionamento do
eixo GH/IGF-1, cuja importância é muito comentada nas adaptações ao treino de
força. Para estudar o tema, TAAFFE et al (1994) realizaram um estudo no qual os
pacientes praticavam musculação por 24 semanas, recebendo GH humano recombinado
(0,02 mg/kg/dia) ou placebo durante as dez últimas semanas de treinamento.
Foram medidas a força máxima, composição corporal e níveis séricos de IGF-1.
Inicialmente, as quantidades circulantes de IGF-1 eram baixas nos dois grupos
(106 mcg/L, aproximadamente metade do correspondente a jovens saudáveis). Com o
tratamento de GH, houve aumento de cerca de 100% na quantidade de IGF-1 sérico,
ao contrário do grupo controle (218mcg/L contra 119mcg/L), porém isto não se
refletiu em influências positivas na força. Apesar da diminuição da massa de
gordura e aumento na massa magra nos pacientes tratados com GH, não houve
aumento significativo na força.
O mesmo TAAFE publicou outro estudo sobre o tema usando
idosos em sua amostra e concluiu que o uso do GH (0,02mg/kg/dia) não provoca
aumento na hipertrofia muscular, indo contra a hipótese de que a deficiência no
eixo GH-IGF seja causadora de menores respostas ao treinamento em idosos.
(TAAFFE et al, 1996).
Esses resultados seguiram sendo confirmados por YARASHESKI
et al (1995), os quais apontam que o treinamento com pesos aumenta a força e o
anabolismo em idosos, porém não há influências positivas do GH nesses
parâmetros, levando os pesquisadores à conclusão que os ganhos de massa magra
possivelmente são advindos de aumento das proteínas não-contráteis e retenção
de fluídos. A pesquisa liderada por YARASHESKI durou dezesseis semanas,
incluindo musculação (4 x semana) e doses diárias de 12,5 a 14 mcg/kg/dia de GH
ou placebo. O interessante é que a administração do hormônio causou tanto
aumento no anabolismo, quanto no catabolismo protéico, com os ganhos de força e
valores líquidos de síntese protéica sendo similares em ambos os grupos.
O mesmo YARASHESKI participou em 1997 de outra pesquisa
desanimadora para os fãs do GH. Dessa vez, foi questionada a relação do
tratamento com GH (12,5 a 18 mU/kg/dia) na densidade óssea. Nesse estudo de
dezesseis semanas, aliou-se a administração de GH a exercícios físicos. As
variáveis medidas foram: composição corporal, densidade óssea e níveis séricos
de IGF-1. Tanto o grupo que recebeu, quanto o que não recebeu hormônio do
crescimento aumentaram de maneira similar a massa magra, apesar de o grupo
experimental ter maiores aumentos nos níveis séricos de IGF-1 após o treino. As
melhoras na densidade óssea foram semelhantes em ambos os grupos, sugerindo
maior turnover ósseo, sem acúmulo de mineral.
Um estudo publicado em fevereiro de 2002, praticamente
concluiu a discussão sobre o tema. LANGE et al (2002) utilizaram modernos
mecanismos (DEXA, ressonância magnética, aparelhos isocinéticos) para detectar
as alterações promovidas pelo uso de GH em pacientes idosos ao final de doze
semanas de tratamento. A amostra foi dividida em quatro grupos: treinamento de
força; treinamento de força + GH; GH e controle. Novamente, foram detectadas
elevações significativas na concentração sérica de IGF-1, redução da massa
gorda e aumento da massa magra. No entanto, o hormônio não trouxe vantagens no
ganho de força nem hipertrofia. O fato mais significativo desse estudo foi ter
verificado as alterações na secção transversa do músculo esquelético através da
ressonância magnética, confirmando que o uso de GH não favorece de maneira
significativa o ganho de massa muscular, independente de ser utilizado
isoladamente ou concomitante ao treino de força (LANGE et al, 2002).
Jovens
Mesmo em pacientes jovens com deficiência de GH, o uso desse
hormônio, nem o de IGF-1 causaram aumentos na força. Apesar de ocorrer aumento
na massa magra e redução do percentual de gordura em ambos os casos, o
tratamento com GH provocou a maior perda de lipídios, além de diminuição na
oxidação de carboidratos e aumento das concentrações de glicose indicando
resistência súbita à insulina. Nem o IGF-1 nem o GH afetaram os fluxos de
cálcio, confirmando a hipótese de que nenhum deles é pivô no metabolismo ósseo
desse mineral (MAURAS et al, 2000).
O simples fato do uso do GH ser questionável para promover
aumento de massa muscular em pacientes debilitados já seria suficiente para
desencorajar o uso desse hormônio em indivíduos saudáveis, pois se a
intervenção não é capaz de aumenta massa muscular em estados catabólicos
extremos, que dirá em organismos normais!!! Ainda assim, é interessante
ressaltar evidências diretas como estudos de YARASHESKI et al, (1992);
YARASHESKI et al, (1993) e DEYSSIG, et al, (1998).
YARASHESKI et al (1992) realizaram um experimento para
avaliar o efeito do tratamento de GH (40 mcg/kg/dia) no anabolismo muscular
associado ao treinamento com pesos durante doze semanas. Ao final do estudo, os
autores concluíram que o ganho de massa magra proveniente do tratamento com GH
é principalmente devido ao aumento de outros tecidos, que não muscular,
portanto o uso deste hormônio não aumenta o anabolismo muscular resultante do
treinamento com pesos. O mesmo YARASHESKI, juntamente com outros autores,
publicou outra pesquisa no ano seguinte com o mesmo objetivo: avaliar a
influência do GH (40 mcg/kg/dia) no anabolismo muscular, só que agora foram
verificados os efeitos agudos (14 dias) em levantadores de peso experientes.
Novamente os valores de IGF-1 aumentaram (224 para 589 ng/ml) e mais uma vez
não houve influência positiva no anabolismo.
O estudo de DEYSSIG foi feito em atletas (0,09 UI/kg;dia), e
os autores tiveram o valioso cuidado de controlar o uso de esteróides
anabólicos. O GH elevou as concentrações séricas do próprio hormônio, de IGF-1
e da proteína transportadora de IGF-1, além de aumentar a taxa de insulina em
jejum e diminuir a de tiroxina. Porém, não houve ganho de força nem melhora na
composição corporal, concluindo-se que os efeitos anabólicos e lipolíticos do
tratamento com GH podem depender da massa gorda e da deficiência na produção
desse hormônio, sendo ineficiente no caso de jovens saudáveis.
Considerações finais
Apesar de toda propaganda exaltando o GH, não existem
justificativas para o uso estético desse hormônio. É incompreensível que a
mídia e demais pessoas propaguem tais idéias sobre uma substância ineficiente,
e demonizem outros hormônios como os derivados da testosterona. A verdade é que
o tratamento a base de esteróides anabólicos, parece ser tão, ou mais eficiente
e seguro que a terapia com GH, além é claro, da inegável vantagem econômica.
O eventual aumento de massa magra relacionado ao uso de GH
pouco tem a ver com hipertrofia do tecido muscular. Em estudos científicos, o
efeito verificado com mais freqüência é a redução no tecido adiposo, no campo
prático há alguns relatos isolados de melhora na pele e cabelo. Dessa forma, a
maioria dos ganhos provenientes da terapia de GH podem ser obtidos com
facilidade através de práticas alternativas, as quais dificilmente chegarão às
cifras gastas com o GH. Outro aspecto a se ressaltar é a freqüente
insignificância dos ganhos de força, indicando que não houve aumento nas
proteínas contráteis. Independente das alterações morfológicas, o simples fato
de o aumento de massa magra não acarretar melhoras funcionais no aparelho
locomotor é um aspecto negativo, pois a melhora funcional deveria ser um
aspecto importante de qualquer terapia ou treinamento físico, mesmo com fins
estéticos.
Reconheço que, para variar, minhas opiniões estão indo
contra a corrente atual de pensamento, porém não tenho nenhuma obrigação em
agradar a mídia e nunca gostei de seguir cegamente dogmas.Antes, prefiro
analisar criticamente o assunto, formar uma opinião concreta e compartilhá-la
com vocês, doa a quem doer.
Fonte: http://musculosdeaco.blogspot.com.br