Um dos programas nutricionais mais conhecidos e realizados até
hoje é o de contagem de pontos, que nada mais é, do que contagem de calorias.
Nesse tipo de “dieta”, chocolates e outros alimentos repletos de calorias
vazias têm espaço. Qualquer pessoa com o mínimo conhecimento em nutrição sabe
que “uma caloria” não é igual “a uma caloria”. Ou seja, a substituição de 100
calorias/pontos provenientes de chocolate ao leite, por 100 calorias/pontos
advindos de um filé de peixe, não possui embasamento nutricional. Apenas
possuem o mesmo valor calórico.
Mas para eu “perder peso” não preciso apenas ingerir menos calorias do que eu gasto?
Sim, é verdade. Mas considerando uma matemática simplória e
ineficaz. Dessa forma, a pessoa que busca redução no peso corporal, perderia
consideravelmente sua massa muscular, além de apresentar certamente
deficiências vitaminas/minerais, que lhe trarão problemas a curto, médio e
longo prazo. Ou seja, em uma proposta de mudança de qualidade de vida, melhora
de rendimento (no esporte, atividades profissionais ou acadêmicas), esse tipo
de medida, não possui espaço.
Poxa vida! Mas era a forma que eu tinha de ingerir meu querido
chocolate! E agora?
Algumas coisas na vida, considero que temos que balancear entre
o prazer que ela proporciona e seu custo. Dentre elas podemos citar: dirigir em
alta velocidade, fumar, ingerir bebidas alcoólicas descomedidamente, usar
drogas recreativas, fazer sexo sem proteção e também o consumo de açúcar. Todas
elas podem possuir seu relativo prazer para inúmeras pessoas, mas no entanto,
possuem um custo alto, que pode ser o da própria vida ou perda considerável em
sua qualidade. Portanto, como profissional de uma área da saúde, não posso
defender um alimento rico em açúcar.
Mas vamos discutir um pouco sobre o cacau, principal componente
do chocolate!
Essa amêndoa, riquíssima em antioxidantes (catequinas e
epicatequinas), magnésio, cobre, manganês, zinco, ferro, anandamida (substância
relacionada ao bem-estar e felicidade, produzida naturalmente em nosso corpo
com atividade física), serotonina, theobromina (substância bactericida e
vasodilatadora) e feniletilamina (outra substância relacionada ao bem-estar).
Quanto às gorduras, é rico em gorduras monoinsaturadas (ácido oleico) e
saturadas (ácido esteárico e palmítico). Vale lembrar que a presença de
gorduras na alimentação é necessária e fundamental para inúmeros processos
fisiológicos. A ingestão de açúcar e carboidratos refinados sim, é o grande
problema da alimentação moderna. Quem duvida disso, analise a prevalência de
doenças cardiovasculares há cerca de 50 anos, quando a população apresentava
uma ingestão elevada de gorduras (inclusive saturadas), mas não consumia tantos
carboidratos de baixa qualidade. Mas isso é assunto para outro artigo…
Ou seja, o cacau é um alimento com propriedades maravilhosas. No
entanto, o chocolate, em sua forma mais tradicional, é uma mistura de cacau,
açúcar, leite integral e diferentes tipos de gordura. O chocolate branco não
possui cacau em sua composição, apenas a manteiga, sendo, portanto uma escolha
ainda pior do que o chocolate preto ao leite.
O chocolate amargo, com no mínimo 70% de cacau em sua composição
e sem a adição de açúcares, pode sim, ser uma boa medida para sua dieta. Possui
baixo teor de carboidratos (com baixo índice glicêmico), um pouco de proteínas
e alto teor de gorduras (mais da metade, insaturadas). Pode parecer ruim, mas
quando trabalhamos com uma dieta controlada em carboidratos, rica em proteínas,
e moderada em gorduras – o que particularmente é a forma que eu mais gosto de
trabalhar, o chocolate amargo tem espaço sim! Assim como o abacate, castanhas e
nozes. Esse padrão alimentar, mantendo a glicemia estável por meio do controle
dos níveis insulínicos, proporciona maior utilização da gordura corporal como
fonte energética. Isso mantém a pessoa mais disposta ao longo do dia, além de
auxiliar na redução da gordura corporal.
Uma dica para compor alguma refeição intermediária do dia seria
o uso de chocolate amargo sem açúcar com algum componente proteico. Pensando no
paladar, penso em uma fonte proteica de sabor doce, como a caseína (proteína de
absorção lenta). Portanto, poderia ser utilizado um “shake” de caseína
complementado por uma pequena porção de chocolate amargo sem açúcar em alguma
refeição intermediária. Assim como a caseína poderia ser acompanhada de abacate
ou castanhas de caju/castanhas do Pará. Da mesma forma que a indústria de
alimentos se preocupou em adicionar leite, açúcar e outros ingredientes ao
cacau pensando exclusivamente no sabor, estamos trabalhando com a indústria de
suplementos para que em breve, tenhamos opções de preparações com cacau
adicionados de aminoácidos e proteínas. É só aguardar!
Fonte: http://www.rodolfoperes.com.br